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Das Viagens

Viajar devia de ser como o sonho: uma constante da vida. Aqui trago relatos apoiados numa visão muito pessoal do prazer de cirandar por aí.

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Das Viagens

21
Nov17

TRIPADVISOR - VANTAGENS E INCONVENIENTES

Eduardo Gomes

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Uma semana em viagem pelo Alentejo obriga a múltiplas refeições a quem tem por hábito fazê-las e prazer tomá-las. A comida regional é fantástica, uma festa para o paladar, ainda que, aos naturais, se recomende alguma moderação, algo que ao turista não causa incómodo por aí além, posto que a estadia nunca irá para além dos dez/quinze dias.

Embora não necessite de aconselhamento no que se refere aonde ir comer, gosto de analisar os comentários que pelo tripadvisor circulam, quer sobre as casas que entendo visitar, quer sobre potenciais opções, a pensar sobretudo em situações inesperadas (encerramento do estabelecimento/atraso na viagem em relação ao plano idealizado, por exemplo).

O site acima referido possui vantagens e inconvenientes. As primeiras dirigem-se sobretudo a quem não tem (tinha) referências locais. Quem são os novos clientes? Os portugueses que até ao advento do tripadvisor iam "comer qualquer coisa a qualquer lado"; os turistas europeus sem cultura gastronómica; os barulhentos e pedantes brasileiros brancos, ricos em busca de nouvelle cuisine numa tasca localizada no coração do Alentejo. Transversal a todos, o telemóvel e a falta de decoro no uso e respeito pelos demais clientes no interior do restaurante.

Os inconvenientes são mais do que muitos. Vamos a eles: atraem gente em excesso a restaurantes incapazes de servir os clientes com o mínimo de qualidade, sobretudo ao fim-de-semana; descaracterizam a gastronomia local, posto o tipo de exigências dos comensais indiferenciados (comida à medida); comentários tendenciosos ou desvalorizados pela manifesta falta de conhecimento e experiência da maioria dos agentes que os produzem. Na maior parte dos casos, as apreciações positivas excedem em muito a qualidade do restaurante; já as negativas prendem-se com aspectos secundários do serviço procurado, esquecendo que os motivos que nos levam a um restaurante são, pela ordem, a qualidade da comida e o profissionalismo do serviço. Ao cliente cabe toda a responsabilidade pela opção tomada em relação aos aspectos marginais: ambiente (se é selecto e formal, porque vai a uma casa onde impera o informalismo?); decoração (se pretende ver-se rodeado de glamour, porque vai a uma taberna?); existência de televisão (se não gosta de manifestações de regozijo pelos golos do Benfica, procure mesas afastadas do aparelho) condições das casas-de-banho (se não se adapta a tudo, escolha restaurantes de luxo); horário de atendimento (se tem crianças não as use como desculpa, seja responsável pela hora a que chega ao estabelecimento).

Da experiência que vou retendo nos contactos com os proprietários, proporia que o aconselhamento se fizesse em função das especialidades e tipo de confecção que o cliente pode esperar em cada local: se o comensal quer um bife, porque vai a uma catedral do cozido à alentejana? Se é uma pizza o que lhe excita o palato, porque entrar num estabelecimento em que o bacalhau é rei? (É batota falar em pizza de bacalhau). É claro que também aos hotéis cabe boa dose de responsabilidade: encaminham as pessoas olhando mais aos interesses próprios do que aos dos clientes, e (acredito que haja quem aconselhe desinteressadamente) se acaso não for assim, defendem-se com a proposta pelo estabelecimento com mais nome, esquecendo-se de fazer as pergunta óbvias: "Que gostaria de comer? Em que condições?"

O jornalista Paulo Salvador acabou de ganhar um prémio pelo programa "Mesa Nacional". Um equívoco. Conheço quase todos os lugares que o referido senhor aconselha; a muitos deixei de ir. São bons até ele aparecer por lá. As consequências da propaganda não se fazem esperar: as casas vêem-se em palpos de aranha para servir tanta procura; a qualidade do serviço cai a pique; os preços aumentam a níveis exorbitantes; as críticas entopem a caixa de reclamações; os clientes mais fiéis afastam-se. E tudo isto para vermos o Salvador apresentar e provar pratos que jamais estão disponíveis, ou, na melhor das opções, só se fazem ao fim-de-semana para grupos de dez, quinze ou mesmo vinte pessoas. Claro que os proprietarios dos restaurantes não estão isentos de culpa na situação: primeiro porque compram a ideia de promoção sem pensarem nos danos colaterais; depois porque, "garganeiros", querem enriquecer em pouco tempo (choca-me ver aquilo em que o proprietário d' O Bolas, na Azaruja, transformou uma mera tasca num recôndito lugar).

Uma última referência para os restaurantes por onde comi na semana passada:

 

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Restaurante Café Alentejo - Évora

Casa para comer o bacalhau gratinado (salvo se for um passarinho a comer, não aceite a proposta para que lhe sirvam uma dose para dois). Preço em conta;

 

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Tasca "O Carlos" - Estremoz

Comida bem feita e sem pretensões. Preço em conta;

 

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Casa de Petiscos "O Choupal" - Alandroal

Ementa alentejana. Ambiente popular. Barato;

 

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Venda Azul - Estremoz

O melhor da cidade. Sistematicamente inacessível sem reserva. Informalismo educado. Preço em conta;

 

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Adega do Cachete - S. Pedro do Corval

Vale pelas bochechas de porco. Serviço sem qualificações. Se por ali passar, entre; se tiver de se deslocar, não o justifica. Preço em conta;

 

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 O Espalha Brasas - Alcaraviça

Cozinheira de grande nível. Cabrito e Galinha são as especialidades. Comida a apresentar sinais de descaracterização... porque lho exigem os novos clientes. Se assim for, será lamentavel. Preço em conta.

 

Nota: É óbvio que vou manter secretos os lugares mais ou menos escondidos dos novos "Átilas" a que o tripadvisor ainda não teve acesso.

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