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Das Viagens

Viajar devia de ser como o sonho: uma constante da vida. Aqui trago relatos apoiados numa visão muito pessoal do prazer de cirandar por aí.

Viajar devia de ser como o sonho: uma constante da vida. Aqui trago relatos apoiados numa visão muito pessoal do prazer de cirandar por aí.

Das Viagens

03
Mar17

TAILÂNDIA - PARTE PRIMEIRA

Eduardo Gomes

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PELAS TERRAS DE SIÃO

 

EMBAIXADA DE PORTUGAL

YOU ARE IN THE

“GARDEN OF PORTUGAL”

AN INTEGRAL PART OF THE PREMISES OF THE

PORTUGUESE EMBASSY

 

 

WHEN IN 1511 THE PORTUGUESE SAILED UP THE CHAOPHIA INTO AYUTTHYA, THERE TO BE RECEIVED BY KING RAMA TIBODI II WITH GREAT HONOURS, THEY BECAME THE FIRST EUROPEANS TO ESTABLISH CONTACT WITH SIAM, THE LOVELY COUNTRY WE NOW CALL THAILAND AND THE FIRST TREATY BETWEEN SIAM AND A WESTERN COUNTRY WAS SIGNED WITH PORTUGAL IN 1516 (THE FRIENDSHIP IT SOLEMNLY CALLED UPON WAS NEVER TO BE TARNISHED IF ONLY SLIGHTLY DURING THE ALMOST FIVE HUNDRED YEARS SINCE GONE BY).

THE PORTUGUESE CROWN KEPT SENDING SOLDIERS TO BE IN ATTENDANCE ON THE SIAMESE SOVEREIGN, AND GUNNERS TO TEACH THE ARTS OF MAKING CANNON AND USE THEM IN WAR. MISSIONARIES FOLLOWED AND TRADESMEN, AND BY THE LAST QUARTER OF XVI TH CENTURY THE PORTUGUESE SETTLEMENT IN AYUTTHYA HAD DEVELOPED INTO A SMALL TOWN OF OVER TWO THOUSAND AROUND THREE CATHOLIC CHURCHES. PORTUGUESE BECAME THE DIPLOMATIC LANGUAGE OF SIAM (IT KEPT THAT STATUS UP TO THE MIDDLE OF THE XIX TH CENTURY) AND WHEN THE BURMESE RAIZED AYUTTHAIA IN 1767 HUNDREDS OF PORTUGUESE FELL DEFENDING THE WALLS OF THE GOLDEN CAPITAL.

IN RECOGNITION OF ALL THIS KING RAMA II, IN 1818, ALLOWED PORTUGAL TO OPEN THE FIRST PERMANENT CONSULATE EVER IN THE KINGDOM OF SIAM AS WELL AS TO MAINTAIN A SHIPYARD AND A “FACTORY” (FREE PORT). GOING FURTHER, THE SIAMESE MONARCH PRESENTED QUEEN MARY II OF PORTUGAL, WITH A LARGE PLOT OF LAND ALONG THE CHAOPHIA, TO BE THE SITE OF THE CONSULATE AND SUBSIDIARY FACILITIES. BETWEEN 1850 AND 1860, THE PRESENT RESIDENCE OF THE AMBASSOR OF PORTUGAL WAS BUILT ON THE SAME PLOT TO BECOME THE OLDEST DIPLOMATIC RESIDENCE IN BANGKOK AND PORTUGAL´S OLDEST IN THE WORLD.

THROUGH A ONE-OF-A-KIND GENTLEMEN´S AGREEMENT, THE ROYAL ORCHID SHERATON GUESTS ARE MOST WELCOME GUESTS OF PORTUGUESE AMBASSOR IN THE “GARDEN OF PORTUGAL”.

 

Por onde andas tu, hoje, alma do nosso Portugal?

A primeira contrariedade de quem decide visitar a Tailândia é a distância. É longe, 10 636 quilómetros em linha recta; entre 13 e 14 000 se feitos em avião – vezes dois, não esqueçamos – com escala, talvez Frankfurt, porventura Istambul, contudo, consomem-se sempre à volta de catorze horas. Sendo que a Emirates está cada vez mais só à mão dos ricos – ou das apresentadoras de televisão com viagem paga – a opção dos “outros”, a comum gente, passa pela Turkish Airlines; e isso faz toda a diferença.

O avião que da antiga Bizâncio ou Constantinopla – à escolha – parte, é do pior que se pode ver, isto para não falar do que de Lisboa levanta voo. Acaso julgam que os ocidentais não possuem a atracção pelo exotismo das asiáticas paisagens; quiçá se recordem que nós, portugueses, por lá andámos há quinhentos anos atrás, e alguma lhes tivéssemos feito para tão fraca consideração: seja! A questão é que um europeu mede, em média, mais vinte a vinte e cinco centímetros do que um oriental. Ora, como os lugares não contemplam pernas acima do meio metro, o pobre ariano vai que nem cavala ou sardinha em lata. E nem se pense que os corredores do avião sejam espaçosos, que o não são. As hospedeiras conduzem mini carrinhos, com mini refeições, servidas em mini tabuleiros, que assim que abertos se assemelham a mulheres dotadas de peitos exuberantes que um homem, após “desembalar”, não percebe onde cabiam tais proeminências posta a frugalidade da tira de pano que sobra depois do trabalho manual. Constantemente nos atingem com semelhantes veículos: nos joelhos, nas pernas, nos pés: “Não devem ter carta de condução”, concluí precipitadamente, pois só quando ao fim de algumas horas fui à casa-de-banho – mini, muito mini, obviamente – reparei que, provavelmente à revelia do construtor, a companhia turca mandara colocar uma quarta fila de cadeiras no meio e fizera emagrecer e crescer os duplos lugares das alas. Manhosos e com falta de gosto, pois a vista a partir do fundo do avião parece a do rabo de um paquiderme.

É verdade que a segunda parte da viagem é, comummente, feita de noite: e daí? Dormem os amparados por Morfeu, e as crianças de seu natural. Quanto aos outros – quase todos – encostam, recostam, viram, reviram... e, quando a luz volta, espreguiçam-se com ar tresloucado, mal-dispostos e olheiras cavadas na face vincada. Pelo meio umas asneiras das grossas, emitidas em pianíssimo quando o vizinho da frente reclina o lugar, esquecendo-se, na maioria das vezes, que o próprio já também o havia feito e, pasme-se, frequentemente ainda antes do avião levantar voo. Faz aos outros o que não gostavas que te fizessem a ti, é princípio que se respeita em pleno rigor, e daí toma lá uns empurrões e pontapés nas costas do assento. Claro que há os privilegiados, os que, sem que se perceba bem como, ficam com os lugares junto às saídas de emergência. Estiquem-se então as pernas; ditosas cunhas. Porque as companhias barram tais lugares no check-in pela internet? Tantos cuidados a cobrirem interesses imperceptíveis e, no voo para Istambul, acabei a servir de intérprete por um daqueles lugares haver sido disponibilizado a alguém que não falava inglês, num claro atropelo às regras da segurança aeronáutica. Claro que o “portuga” se viu compelido a trocar de um lugar que, seguramente, não fora escolhido pelo próprio. Uma dúvida me assaltou perante tanta pobreza franciscana: por que há gente a viajar em business class pela Turkish Airlines? Haverá diferença de preços comparativamente à Emirates?

Aterrámos, ufa! É tempo de compensar tanto incómodo. A procura de um táxi que percorra as cerca de três dezenas de quilómetros que separam o aeroporto da cidade de Bangkok, inclui obrigatória passagem por um torniquete onde uma menina com um sorriso nos lábios nos dá um bilhete para uma das lanes em os veículos se encontram estacionados às dezenas. À pergunta sobre o custo, responde que não sabe. Sigamos então até ao cais 7. Espera-nos o Rampoong, taxista que, tal como os demais, não fala inglês. Porém, tal handicap, não lhe retira a esperteza: o taxímetro encontra-se, ardilosamente tapado por um vulgar pano de cozinha multicor. Como a experiência é um posto, insisti: – Quanto custa? – Five hundred, entendemos a muito esforço. São mais 50 bath do que o valor que circula pela net. Resmunguei; que inclui não sei o quê, retorquiu o tailandês. Parece que sim, que o diferencial de destina a ter direito a reclamar do serviço caso do cliente o pretenda fazer. Primeira lição na Tailândia: não basta adquirir e pagar um produto; para se reclamar é necessário comprar também uma espécie de apólice seguradora.

A auto-estrada bordeja o que se percebe ser uma zona nova dos subúrbios da cidade. Torres de múltiplos formatos, destinadas sobretudo a habitação, surgem de ambos os lados. Poderia estar em Madrid, não se notam diferenças de maior... até chegarmos aos limites – ou assim parecem ser – da cidade. Começam a aparecer velhos edifícios sujos, alguns em ruínas, outros por acabar ainda com o esqueleto à vista: coabitam com enormes arranha-céus pertencentes a conhecidas multinacionais. À chegada à praça Victory Monument vêem-se os centros comerciais. Vários. Quanto deveriam ganhar os tailandeses para ali poderem adquirir os seus produtos? Na verdade, os mall destinam-se a turistas, e, pelo menos num caso, não vendem mais do que falsificações disponíveis em qualquer floating ou city market. O Rampoong recorre repetidas vezes a uma vulgar escova de plástico: fico curioso. Serve-lhe para se pentear e coçar – sim, coçar as costas acima e abaixo – sem qualquer prurido por estar na presença doutrem.

 

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Por razões pessoais ficámos instalados no Royal Orchid Sheraton, mesmo à beira do rio Chao Praya. A vista é óptima, e o movimento das embarcações, algumas delas a efectuar transporte público, impressionante. Apesar do cansaço proveniente de duas noites sem dormir, uma por culpa da idade, outra da Turkish Airlines, decidi combater a inércia e evitei deitar-me a meio da tarde. Com a promessa própria de uma boa noite de sono e da consequente anulação do efeito jet-lag, fui dar uma volta pelo centro enquanto fazia horas para jantar.

 

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A cidade é feia, muito feia; os cheiros a fritos e esgoto lutam pela preferência do olfacto mais renitente; pelo chão jaz lixo em sacos e fora deles. Ruas fora, numa parafernália que impede a livre circulação, bancas vendem tudo e mais alguma coisa, sobretudo comida. No espaço aéreo, em meia dúzia de metros, correm tantos milhões de cabos que parecem estar ali instaladas todas as empresas de comunicação do mundo inteiro. Muitos encontram-se caídos pelo chão, enrolados e com os terminais à vista. Se possuem ou não corrente, foi coisa que não quis experimentar. O trânsito é horroroso. Ninguém cumpre regra alguma, não há sinais, não se detêm nas passadeiras nem cumprem os traços contínuos; de gentileza nem se fala, e só a galhardia e valentia dum macho latino me faz arriscar e atravessar numa passadeira em disputa pela primazia na passagem com um qualquer táxi, tuk-tuk ou autocarro. E todos buzinam que se desunham, num aparente desafio com a algaraviada que vai pelos passeios. O trânsito faz-se pela esquerda, o que, no meio do caos, afasta qualquer pretensão a alugar um carro, ingleses incluídos. Aliás, ainda não vi qualquer posto de aluguer de veículos pela cidade. Os naturais possuem duas características comuns: andam todos engripados – ou assim concluí das respectivas protecções respiratórias – e são loucos por telemóveis. Nos locais de trabalho ocupam o tempo a pseudo combater os maus em jogos infantis ou a verem agressivos desenhos animados. Adultos, enteda-se, não simples crianças: ele são as empregadas comerciais; ele são os polícias; ele são os guardas no museu do Grande Palácio. Estúpida forma de passar o tempo, que não inclui, ao contrário do que pensei, por exemplo, ler um bom livro; nada. É o que faz criar estereótipos a priori.

 

(Continua)

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